Projeto da Emater-DF valoriza artesanato rural
O projeto “Olhares do Campo”, da Emater-DF, tem transformado a vida de mulheres que trabalham com artesanato. Até agora, três grupos foram formados, nas regiões rurais do Gama, Brazlândia e Paranoá. No Gama, o trabalho se desenvolveu mais rápido e hoje o grupo consegue comercializar com produtos de qualidade. Os outros grupos estão no caminho e, em breve, o projeto deve se expandir para outras áreas do Distrito Federal.
A turismóloga Zaida Regina da Silva, que idealizou o trabalho, explica que a ideia central é fortalecer a produção associada ao turismo. “Trata-se de explorar o potencial turístico, valorizando a cultura e a história locais”, afirma. Com a pandemia que atinge o país desde março, o projeto passou a ser executado de forma virtual, com orientações e assistência oferecida às mulheres por meio do aplicativo whatsapp.
O “Olhares do Campo” começou em 2018, quando Zaida percebeu que grupos de artesanato locais produziam um trabalho que trazia poucas referências do campo. “Se queremos um produto que seja mais bem aceito pelos consumidores, ele deve trazer imagens e memórias típicas da área rural. A mudança de olhar é o foco do projeto. Conseguimos fazer essas mulheres se voltarem para si mesmas e para sua região”, esclarece a extensionista da Emater-DF. O primeiro grupo a ser trabalhado foi em Brazlândia e o nome do projeto foi sugerido pelas próprias mulheres que compunham o coletivo.
Com a crise sanitária, os “encontros” passaram a ser virtuais. “A qualificação agora é feita toda pelo whatsapp. Formamos um grupo onde as orientações são passadas e elas apresentam dúvidas e contribuições”, afirma Zaida. No Gama, o grupo conta com 16 mulheres; em Brazlândia são 11 e nas comunidades rurais do PAD-DF e Jardim (RA Paranoá), são 33.
Com a realização do “Rolê PlantaFlor”, uma feira de exposição e comercialização de flores e plantas ornamentais ocorrida na Colônia Agrícola Rajadinha (RA Planaltina) em setembro, Zaida resolveu levar o trabalho do grupo das mulheres do Gama. “A qualidade estava muito boa e as peças tiveram ótima aceitação. Algumas artesãs venderam tudo”, comemora a extensionista.
Zaida adianta que o projeto “Olhares do Campo” está no planejamento estratégico da Emater-DF para 2021. “Temos limitações de pessoal e estrutura, mas, na medida do possível, queremos levar essa experiência a outras comunidades rurais do DF. Afinal, o olhar personalizado do artesanato agrega valor ao produto. Na próxima edição da Feira do Parque, por exemplo, queremos levar uma nova leva de peças”, afirma. Cada unidade traz um selo do projeto com o nome da artesã e um resumo do trabalho, o que ajuda a valorizar ainda mais a atividade.
Grupo unido
A economista doméstica Carmem Pinagé, do escritório da Emater-DF no Gama, lembra que o trabalho com mulheres na região começou em 2001. “Quando comecei a desenvolver um trabalho no núcleo rural Recanto dos Buritis, percebi que as mulheres dos agricultores eram muito isoladas entre si, tinham pouco contato. Havia vários casos de depressão, inclusive. Então, formamos um grupo e começamos a trabalhar com bordado”, relembra. No início, eram apenas quatro mulheres.
Com o passar dos anos, o grupo cresceu. “Isso me motivou a me qualificar para repassar conhecimento a elas”, recorda Carmem. “Chegamos num ponto que começamos a pensar em encontrar uma identidade para o coletivo. Foi aí que entrou o ‘Olhares do Campo”, conta a extensionista.
O trabalho da turismóloga Zaida Regina ficou mais fácil, já que o grupo estava “organizado e unido”. “Ela nos mostrou a importância de se usar a referência local. O grupo se reunia toda quarta-feira à tarde e ela sempre trazia novas informações e orientações para que pudéssemos aperfeiçoar a técnica e usar a temática regional”, acrescenta Carmem.
Neocleide Milani Gomes tem 80 anos e não para. Natural de Adamantina (SP), ela veio para Brasília em 1957. Deu aula de crochê para idosos em Taguatinga durante 9 anos, em um programa do governo. Quando o projeto foi extinto ela se mudou para a área rural do Gama e hoje faz parte do grupo de mulheres. “Acho maravilhoso participar dessa atividade, pois eu tenho algo a fazer. Estou me sentindo muito bem no campo. As pessoas aqui são muito inteligentes e gostam muito de aprender. Eu, por exemplo, ainda estou aprendendo”, conta.
D. Neocleide tem 80 anos e faz parte do grupo do Gama
Com a exposição vitoriosa no Rolê PlantaFlor, Carmem acredita que o grupo tem condições de se fortalecer e expandir sua atuação. “Mesmo com a pandemia, mostramos que é possível gerar trabalho e renda para essa comunidade. Esse é o trabalho da extensão rural: transformar para melhor a vida das famílias no campo”, finaliza.
Fonte: Emater-DF