Como resolver o déficit de armazenagem no Brasil?
Levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) prevê produção recorde de 154,8 milhões de toneladas de soja na safra 2022/23, resultado da melhora da produtividade e maior área plantada. Já o milho, importante cultura na segunda safra, tem uma produção total estimada em 125,5 milhões de toneladas, um aumento de 12,4 milhões de toneladas em relação à safra 2021/22. Só boas notícias? Nem tanto.
Embora seja um dos maiores produtores de grãos do mundo, o Brasil ainda apresenta um sistema de armazenamento insuficiente, com uma capacidade estática capaz de armazenar cerca de 60% de uma única safra. Em 2023, em razão do aumento da produtividade e da decisão de grande parte dos produtores de segurar o produto aguardando um melhor preço no mercado de commodities, técnicos e empresários do setor estimam que o déficit da capacidade estática de armazenagem pode chegar a 60 milhões de toneladas.
Como resolver? Na AgroBrasília, diversas empresas apresentaram soluções para armazenamento, como os tradicionais silos metálicos. Mas as incertezas do mercado e as altas taxas de juros têm deixado os produtores mais cautelosos em fechar grandes negócios. “Como não há uma linha de crédito atrativa para armazenagem, os produtores estão aguardando a liberação do Plano Safra para fechar negócios”, acredita Luiz Carlos Zarnot, supervisor comercial da Pagé, empresa que trabalha com toda a linha de recebimento, limpeza, secagem e armazenamento em silos metálicos para mil a 250 mil sacas.
Flávio Luiz Dala Rosa, da Engesilo, pondera que o grande volume de armazenagem ainda está em cooperativas e cerealistas. Apresentando uma pesquisa da Esalq sobre a capacidade de armazenamento de grãos de cada região brasileira, ele afirma: “está havendo uma migração para armazenagem de médio a pequeno porte na fazenda, mas esse setor não está crescendo tanto por falta de recursos e conhecimento de gerenciamento”.
Segundo Flávio, um projeto de armazenagem, incluindo a estrutura para limpeza e secagem dos grãos, requer investimento de R$ 1 milhão a R$ 15 milhões. “Um projeto básico para armazenar 12 mil toneladas de grãos, numa propriedade de 1,5 mil a 2 mil toneladas, por exemplo, fica em torno de R$ 6 milhões”, exemplifica.
Alternativas de armazenagem
Uma alternativa em franco crescimento são os silos-bolsa, onde o produtor pode armazenar a produção em sua propriedade, até que o mercado reaja positivamente. No estande da Marcher, que produz máquinas para confecção de bolsas para armazenamento de grãos secos e silagem, os negócios superaram as expectativas, segundo o empresário Renan Borba. “O silo-bolsa surge como um grande diferencial, por causa do custo reduzido. Assim, a estrutura se paga muito rapidamente. No silo-bolsa, os custos de armazenagem são cerca de 90% mais baixos que em um armazém. Como as bolsas são hermeticamente fechadas, o produto não sofre ação do ambiente externo e pode ficar até 24 meses dentro da bolsa, dependendo da sua qualidade”, propaga.