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15.09.2020 | Por: administrador

Setor Moveleiro de Exportação de Santa Catarina tem significativa contribuição no desenvolvimento da região, aponta estudo da Embrapa

A produção de móveis de madeira maciça para exportação a partir de florestas plantadas é um importante segmento da cadeia produtiva florestal no Brasil. O estado catarinense se destaca com quase metade das exportações do País.

Estudo realizado por pesquisadores da Embrapa analisou o setor moveleiro da microrregião de São Bento do Sul/SC. O objetivo foi caracterizar o setor dentro da cadeia produtiva florestal e sua importância no desenvolvimento econômico da região. O estudo foi realizado de janeiro a julho de 2020, sendo que as entrevistas com os agentes da cadeia produtiva foram realizadas na última semana de janeiro. Portanto, o estudo reflete a situação anterior à pandemia do novo coronavírus, e mostra caminhos a serem trilhados.

Os resultados do estudo podem ser encontrados nas publicações "O setor moveleiro de exportação no estado de Santa Catarina: considerações gerais e impacto no desenvolvimento econômico" e "O setor moveleiro como parte integrante da cadeia produtiva florestal de florestas plantadas na região de São Bento do Sul".

Um dos resultados do estudo é o potencial de mercado para exportação, com muito espaço a ser ocupado. Diferentemente do restante do Brasil, o polo moveleiro de São Bento do Sul se especializou na produção de móveis de madeira maciça, com matéria-prima de plantios florestais, principalmente com foco no mercado externo. “Ainda que tenha a maior produtividade de florestas plantadas do mundo, o Brasil tem uma participação extremamente tímida neste mercado”, explica o pesquisador José Mauro Moreira, da Embrapa Florestas.

market share brasileiro no mercado mundial de móveis caiu de 1,95% em 2001 para 0,88% em 2018.  “Temos uma produção de móveis quase que totalmente amparada em florestas plantadas de pinus e eucalipto, baseados em sistemas de produção sustentáveis. É de extrema importância apresentar isto para o mercado mundial”, reflete o pesquisador Jonas Irineu dos Santos Filhos, da Embrapa Suínos e Aves. “Este setor apresenta um grande potencial de crescimento, pois conta com elevada produtividade de madeira, grande mercado consumidor mundial a ser explorado e elevado empreendedorismo”, ressalta o pesquisador.

“Somos pequenos, mas o ponto positivo é que há um mercado gigantesco para buscar”, diz Jonas Santos Filho. “O Brasil se destacou neste período na produção e exportação de celulose, mas não obtivemos o mesmo sucesso nas cadeias produtivas florestais de maior valor agregado, perdendo uma grande oportunidade de ampliar o desenvolvimento e a geração de empregos em regiões florestais no interior do país”, destaca José Mauro Moreira.

A produtividade florestal do Brasil é a maior do mundo, entretanto este mercado é dominado pela China e União Europeia (40,4% e 27,7%, respectivamente), com mais de 70% do mercado de exportação mundial de móveis de madeira.

 

Investimento em ativos florestais
Outra análise feita é sobre a importância de as empresas investirem em ativos florestais próprios, em especial em períodos de valorização cambial. “Os ativos florestais próprios proporcionam estabilidade na matéria-prima, tanto em qualidade como preço; garantem a exploração adequada do plantio florestal e, em situações de necessidade de formação de caixa, podem ser utilizadas para liquidação de ativos”, analisa José Mauro.

No entanto, embora a maioria dos empreendedores reconheça a necessidade de se obter áreas próprias para o plantio de florestas, a carência de recursos financeiros, a elevação do preço da terra e o longo período de maturação do investimento dificultam a realização deste tipo de investimento no curto prazo. “O preço da terra é um componente importante do custo de produção florestal. Ao se retirar o custo da colheita que ocorre, logicamente, no final do projeto, o custo do aluguel da terra é aproximadamente igual ao somatório das despesas silviculturais e dos gastos gerais”, alerta José Mauro. “Esta expansão demanda um capital monetário que poderia ser utilizado para investimentos em máquinas e equipamento que aumentassem a produtividade da fabricação dos móveis, aumentando a nossa competitividade no mercado externo e interno”, alerta.

Por outro lado, ainda que o Brasil continue sendo um grande produtor de madeira, a necessidade de madeira adequada ao melhor aproveitamento no setor moveleiro em termos de diâmetro e qualidade a torna um produto específico para o setor, e necessita de maior atenção aos plantios florestais com destino ao setor moveleiro. “Atualmente, em função do longo período de maturação do investimento e da competição com lavouras (principalmente, soja), o investimento florestal tem perdido competitividade e as áreas de florestas provenientes de produtores independentes estão diminuindo, o que coloca o setor em alerta”, explica o pesquisador.

Estas especificidades do sortimento adequado às empresas moveleiras somadas à elevação do valor da terra dificultam a obtenção de autossuficiência por empresas de médio e grande porte. Outra dificuldade que algumas empresas enfrentam é o consumo de madeira de florestas próprias todo ano, visto que seria necessário ter áreas em idade de colheita todo ano.

As empresas possuem plantios florestais próprios e os utilizam na sua produção, mas a proporção de madeira própria e de mercado a cada ano pode variar em decorrência do próprio desenvolvimento de seus plantios. Uma forma apontada pelos pesquisadores para fomentar este desenvolvimento e ao mesmo tempo o setor moveleiro, seria substituir a busca de recursos para ampliar a produção própria de madeira para móveis por um instrumento de organização da produção via contratos de parceria com os pequenos produtores florestais e/ou suas associações ou cooperativas. 

O fortalecimento das relações de mercado dos pequenos e médios produtores florestais com as empresas consumidoras de madeira para móveis e outros produtos de maior valor agregado permitiria um maior desenvolvimento da região, pela valorização da produção florestal destes produtores, manutenção da oferta de madeira ao polo moveleiro e redução da necessidade de investimentos em plantios florestais, possibilitando maior foco na elevação de produtividade do processamento da madeira e produção dos móveis.

 

Caracterização do polo de São Bento do Sul
O polo conta com 391 empresas e mais de 6.500 empregos diretos, destinando cerca de 80% da sua produção para o mercado externo. A região Sul do Brasil é responsável por mais de 44% da produção de móveis do Brasil, sendo Santa Catarina o quinto maior produtor nacional em número de peças.

Já o Estado de Santa Catarina conta com cerca de 4,1 mil pequenas e médias propriedades rurais na cadeia produtiva florestal estadual, com a oferta de toras de pinus para a indústria madeireira, demonstrando o acesso que tais produtores possuem a este mercado de maior valor agregado dentro da cadeia produtiva florestal na região. Ainda segundo estes dados, os pequenos e médios produtores rurais de Santa Catarina (propriedades entre 5 e 500 hectares), representam 90% das propriedades que ofertaram madeira em tora de pinus para outras finalidades, participando com 31% da quantidade produzida e 26% do valor da produção deste produto, sendo significativa sua participação neste mercado.

Isso mostra o potencial de geração de renda e dinamização das propriedades rurais com produção florestal ao transacionar produtos com o segmento de processamento de madeira na região, compondo uma cadeia produtiva florestal completa e madura.

O Estudo
O foco do estudo realizado pela Embrapa foi o setor moveleiro da microrregião de São Bento do Sul-SC, e teve como objetivo a caracterização do setor dentro da cadeia produtiva florestal, e sua participação no desenvolvimento econômico da região. O trabalho foi realizado pela Embrapa por solicitação do Sindicato das Indústrias da Construção e do Mobiliário de São Bento do Sul (Sindusmobil) e a Associação Catarinense de Empresas Florestais (ACR). 

Para o estudo, os pesquisadores José Mauro Magalhães Ávila Paz Moreira (Embrapa Florestas) e Jonas Irineu dos Santos Filho (Embrapa Suínos e Aves) realizaram entrevistas presenciais com integrantes da cadeia produtiva moveleira, bem como a análise de dados secundários disponíveis em bases de dados públicas e relatórios setoriais, com o intuito de delinear a cadeia produtiva da região nos últimos anos, bem com sua participação nas exportações e a geração de empregos na economia brasileira. Vinte agentes da cadeia produtiva foram entrevistados para realização do diagnóstico, sendo 13 empresas do setor moveleiro, três serrarias, uma empresa de energia renovável e três instituições representativas dos setores florestal, madeireiro e moveleiro.

Desenvolvimento Social
A despeito das dificuldades enfrentadas pelo setor, especialmente na área estudada, o estudo frisa a importância do polo moveleiro para o desenvolvimento da região. Tal atividade econômica está presente na microrregião de São Bento do Sul desde o início de sua colonização na década de 1950. “Ao estudarmos a correlação espacial entre o desenvolvimento do setor moveleiro nos municípios, dado pelo número de empregos gerados, com o desenvolvimento dos municípios e de seus vizinhos, mensurados pelo Índice FIRJAN de desenvolvimento, é possível ter uma ideia da contribuição do setor moveleiro no desenvolvimento de seus próprios municípios e de seus vizinhos”, diz o pesquisador Jonas Irineu dos Santos Filho.

Embora o desenvolvimento possa ser resultado de várias atividades econômicas presentes nos municípios, o índice Firjan de 2016 mostra uma associação espacial entre a presença do setor moveleiro e o índice utilizado, sendo que o município de São Bento do Sul é considerado exemplo do impacto da atividade moveleira no desenvolvimento econômico. O Índice Firjan (IF) deste município foi de 0,8385 e o coloca na oitava posição dentro do Estado de Santa Catarina e ao 135º melhor município do Brasil. Rio Negrinho, com IF de 0,7658, e Campo Alegre, com IF de 0,8006, que compõem a microrregião de São Bento do Sul, também apresentam indicadores de desenvolvimento elevados. Destaque também para os municípios limítrofes de Mafra com IF de 0,8089 e Canoinhas com IF de 0,7997. “A ideia é que o desenvolvimento, por meio das demandas da cadeia produtiva, cause transbordamento além da sua própria cidade, contribuindo para o desenvolvimento da região inteira”, analisa Jonas.

FONTE: EMBRAPA

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